quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Natal despreza Micarla. Já não é só buraco e lixo que contam

 

Heracles Dantas
 Micarla de Souza

O vereador Heráclito Noé, futuro secretário chefe do Gabinete Civil da Prefeitura de Natal afirmou que acredita na recuperação da prefeita Micarla de Sousa a partir do momento em que os buracos forem tapados e o lixo for recolhido.

Simples assim.

A opinião de Heráclito é compartilhada com a do líder da prefeita na Câmara, vereador Enildo Alves e o presidente de honra do PV, professor Rivaldo Fernandes.
Para os governistas, basta que a reclamação da população seja atendida e tudo se resolve. Não é tão fácil assim.

Natal está diante de uma prefeita que venceu a eleição no primeiro turno e chega ao seu último ano de mandato com reprovação superior a 90% e rejeição na faixa dos 60%.

São números que impressionam.

Há de se analisar as duas situações de forma diversa. Reprovação à gestão e rejeição ao nome.

A reprovação administrativa é reversível, pois o que há é uma cobrança a respeito de algo que não foi resolvido, acrescido de uma crítica adjetiva diante da omissão.

Caso o gestor solucione o problema, é perfeitamente possível que o crítico mude seu foco e até passe a reconhecer o benefício e a ação eficiente.

É aí que se sustenta o argumento dos governistas que acham que a limpeza das ruas e o fechamento dos buracos resolve tudo.

Mas não é bem assim, pois há a outra ponta da análise: a rejeição pessoal.

Micarla de Sousa é uma jovem profissional da comunicação que, diferente de seu pai, nunca foi ‘povão’, de contato direto com a periferia, o que foi modificado no período eleitoral, quando a ‘Borboleta’ foi absorvida como a candidata do povão que parte da classe média não engolia.

Micarla se elegeu no primeiro turno justamente pelo fato de que sua adversária, Fátima Bezerra, vinha de uma rejeição na faixa dos 40%, predominantemente nos segmentos religiosos e nas classes C, D e E e numa parcela da classe A que a via como ameaça aos interesses financeiros e empresarias.

Hoje, Micarla de Sousa amarga uma rejeição de quem já a rejeitava, a classe média, que só votou nela para derrotar Fátima. A rejeição desse segmento tem um efeito multiplicador, que passou a atingir também a juventude de todas as classes.

Mas o pior para a prefeita é o sentimento de decepção de quem a elegeu: o povão. Ela tentou agradar a classe média que não a engole e esqueceu de quem a fez vitoriosa.

Os serviços públicos utilizados pelo povão nunca foram priorizados pela prefeita Micarla de Sousa, basta citar o precário funcionamento dos postos de saúde, o transporte coletivo ineficiente, desconfortável e demorado e as ruas sem estrutura, que levam todas as classes para a união em torno da reclamação.

Portanto, o sentimento que há em quem votou em Micarla é de arrependimento, de ter sido enganado, de ter sido trouxa, de ter sido vítima de um estelionato.

É justamente por isso que cresceu de forma tão expressiva a rejeição pessoal. É gente que já não liga mais para o fato de haver alguma mudança na gestão; é um povo que está revoltado com a simples menção ao nome da prefeita; pessoas que já não admitem sequer enxergar algo de positivo para ser tratado como idiota novamente.

Essa é a grande diferença da reprovação da gestão para a rejeição pessoal.

E tem mais:

A situação está tão crítica que há parcelas expressivas da população que já migrou da revolta pessoal para o desprezo. É gente que já nem se deixa informar de algo positivo, tamanha é a repulsa materializada em descrédito e até em silêncio que fala mais que um palavrão.

A possibilidade de reversão do quadro sempre vai existir. Afinal, só saberemos ao certo e de forma indiscutível quando, na noite do dia 07 de outubro, o último voto for contabilizado.

Mas, do ponto de vista real, levando em consideração situações semelhantes e históricas, é muito, muito difícil haver uma recuperação na reprovação administrativa e quase impossível reverter o quadro de rejeição pessoal.

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