sábado, 16 de junho de 2012

SAUDADE EM EVIDENCIA: MARIA BOA


 

“As mulheres de Maria Boa tem uma predileção pelo grego, em detrimento do latim. Usam a palavra “gala”, e não esperma. Gala é leite em grego.” Luís da Câmara Cascudo
No final da Rua Padre Pinto, centro de Natal. Ali, em um local escondido, havia um belo casarão. Arborizado, florido, discreto. O visitante, ao entrar, via uma casa recheada de móveis vermelhos, estilo clássico. Um imenso salão com damas dançando tango. Tivesse sorte, talvez ouviria a voz de Odair José soando na vitrola e dependendo da época que fosse, os acordes do piano de Paulo Lira. Veria, caminhando por entre os cômodos, algumas belas mulheres, talvez as mais bonitas que já tivesse visto. Todas simpáticas e à sua disposição. O álcool não faltaria. A cerveja, sempre gelada, estaria distante apenas de um pedido.
O bordel de Maria Boa era assim. Um espaço luxuoso, bonito e caro. Um casarão que certamente foi palco de reuniões políticas importantes. Nele pisaram grandes nomes da cultura, da economia e da política norte-riograndense. Um cabaré – para evitar eufemismos –cuja dona era uma mítica mulher conhecida nos círculos da alta sociedade da pacata cidade de Natal apenas por Maria Boa. Boa, porque, segundo dizem e evitando o trocadilho vulgar, doava dinheiro para a família investir em estudos, cultivava paixões por livros e filmes e, o principal, portava-se como uma verdadeira dama – educadíssima.
É irresistível, aqui, deixar de usar a célebre frase de Nelson Rodrigues: “A mulher ideal deve ser dama na mesa e puta na cama”. Isso porque todos os depoimentos e textos sobre  uma das personagens mais conhecidas da cidade retratavam a boa educação que ela tinha. Aliás, não seria exagero imaginar que Rodrigues, antes de escrever essa frase, tivesse visitado o lendário bordel da Maria Boa e talvez experimentado alguma de suas meninas. O local era um ponto turístico, uma referência na cidade.
A fama do casa e o prestígio que ele tinha entre a alta sociedade potiguar fez de Maria Boa uma lenda. O nome, na verdade, é o pseudônimo para Maria Oliveira de Barros, uma paraibana de Campina Grande, nascida sob o signo de câncer em um 24 de junho de 1920. De acordo com artigo de Deífilo Gurgel publicado no livro 400 nomes de Natal, ela desembarcou na cidade depois de envolver-se em problema na Paraíba. Conta Deífilo que ela teria sofrido uma ameaça de morte e, assim, viu-se obrigada a chegar em Natal em plena década de 40 para salvar a própria carne. Mas esse é apenas uma versão da história. Certo é que ela chegou numa época de guerra, dos soldados norte-americanos e dos grandes prostíbulos.
Não se sabe ao certo qual foi a data de fundação do seu famoso cabaré. Foi em um daqueles anos da década de 40, onde podia-se facilmente encontrar os cadetes da aeronáutica andando nas ruas de Natal. A menina, campinense, no auge dos seus vinte anos, devia ter feito a cabeça de muito homem. Outro artigo, agora do historiador Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto, conta que a dita-cuja teve seu nome gravado em um caça B-25 e sua imagem pintada na lataria de um deles. A mais importante máquina de guerra da época. Uma  foto de Maria Boa do jeito que nasceu – nua – também fez fama entre os soldados e virou troféu de competição dos cadetes.


PESQUISA: JR-SOARES

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