Para qualquer governante, é desconfortável amanhecer o dia com a Polícia Federal entrando em repartições, levando documentos, equipamentos e deixando um rastro de temor pelo que ainda pode acontecer.
Fátima Bezerra experimentou esse amargo sabor de ver a PF serpenteando nas salas e corredores da secretaria de Saúde do Estado, sob alegação de que investigação sigilosa buscava comprovação de irregularidades em contratos efetuados em sua gestão.
É mais do que natural que aliados da gestão estadual apontem suspeita de perseguição política. Afinal, vivemos no mundo dos extremos e Fátima está em um dos polos, diametralmente oposto ao do presidente da República, em todos os sentidos.
Porém, antes de brigar com os fatos, contestar as investigações ou apontar suspeitas, é prudente imaginar que pode realmente existir algo de podre nos intestinos do mecanismo estatal que controla um gigante milionário chamado Sesap.
Nenhum governante é capaz de saber de tudo em todas as secretarias. É justamente para isso que existe a hierarquia administrativa e a descentralização. Há uma escada com incontáveis degraus para se chegar ao topo de um processo concluso de compra ou prestação de serviço.
É nessa escada hierárquica que o dinheiro externo corrompe com ares de tecnicidade absoluta, aparentemente divorciado do erro e casado com a retidão. Tudo encenação de um teatro corrupto com verniz de honestidade. Isso pode acontecer em qualquer gestão.
Cabe ao gestor maior, ao tomar conhecimento dos fatos nefastos em forma de corrosão moral, exercer com altivez e coragem o que reserva o papel de protagonista: Agir.
Mas, é possível que alguém em seu governo tenha feito algo que atraiu olhares permanentemente atentos dos vigilantes fiscais da probidade, inseridos em instituições atemporais e incolores, ávidos por exercer com fidelidade canina à consciência, seu mister merecedor do aplauso silencioso.
Cabe à Maria de Fátima Bezerra, mulher de fé inabalável, botar na conta da provação divina, o dia em que a PF invadiu uma banda de seu governo e infartou o coração pulsante de sua gestão, mas não provocou morte e nem sequelas irrecuperáveis.
Fátima tem que ser cerebral frozen, sem permitir que ninguém possa contaminar sua imagem; seu maior e mais valioso patrimônio.
Diante disso, a reação é imperiosa. Seja amigo, companheiro de partido, aliado, militante fiel… Quem se envolveu com o erro, que seja punido por ele.
A solidariedade pessoal é inerente aos bons de coração e não pode ser negada. Solidariedade pessoal não pode ser confundida com conivência ou cumplicidade com o erro. Extrair uma situação da outra é o segredo para a sobrevivência política e administrativa.
Fátima não pode sequer pensar na hipótese de ter uma laranja podre a estragar todo o suco, que ficará inservível e mal cheiroso, cujo destino inevitável será o lixo.
Ela é a comandante de tudo. O povo delegou nas urnas esse poder. Sem ela, o barco naufraga.
Justamente por isso, a filha de Seu Severino e Dona Luzia precisa estar mais do que nunca, longe das tempestades, para evitar que alguém desavisado esteja em processo de afogamento inevitável e queira um abraço da companheira a lhe socorrer. Assim é chamado o abraço de afogado.
O desesperado, tomado pelo inevitável afogamento, se debate tanto quando alguém vai salva-lo que impede a reação de seu salvador.
Resultado: Ambos morrem abraçados sem que o exercício nobre da solidariedade tenha sido executado. O egoísmo tragou a razão e o desespero fulminou a esperança.
Quando a PF bater novamente à porta do Governo, deve encontrar Maria de Fátima Bezerra altiva e corajosa como sempre foi, dizendo aos federais: “Pode entrar. Aqui não há nada a esconder.”
E para usar um termo bem interiorano que traduz com precisão o fato de você não ter feito nada de errado, mas há suspeitas de que alguém em seu time saiu da linha, Fátima deve dizer em altíssimo volume, tão alto que chegue aos tímpanos dos rigorosos MPs e semelhantes, com seu brado sertanejo da paraibana de Nova Palmeira: “Quem for podre, que se tore.”
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