domingo, 11 de agosto de 2019

Cortez Pereira em perfil



Por François Silvestre
Honório de Medeiros me convoca. Informa que um grupo de estudiosos das coisas nossas daqui deste paquiderme raquítico pretende continuar uma obra de Câmara Cascudo, que traçou o perfil dos governadores do Rio Grande do Norte.
Parece que Cascudo foi até Rafael Fernandes.
Disse-me ele que recebera a incumbência de me convocar, e a mim foi delegada a tarefa de escrever sobre Cortez Pereira. Topei. Cortez foi meu professor, depois meu amigo. No meio dessa amizade, um período difícil de oposição minha ao seu governo.
Tempos escuros e crus.
Num episódio, na Casa do Estudante, eu contestei uma entrega que Dona Aída, primeira-dama, foi fazer no pardieiro da Praça Lins Caldas. O meu discurso naquele evento resultou na minha prisão, após o coronel ajudante de ordem do governo ter desligado o microfone.
Continuei com o som nu da minha voz. Esse evento me rendeu uma das minhas prisões e um processo na Auditoria Militar da Aeronáutica, em Recife.
Muitos pensaram e alguns ainda pensam que eu me tornara inimigo de Cortez. Nada disso. Se dependesse dele ou de Dona Aída eu não teria sido preso.
Ocorre que naquele período, governo do torturador Emílio Médici, governador de Estado não tinha força para prender nem prestígio para soltar. Essa frase, que eu disse na época, foi usada pelo próprio Cortez quando um repórter lhe perguntou, na TV Universitária, se ele havia colaborado com a repressão.
Disse ele:
- “Sei do que você está falando, mas o próprio reprimido me isentou daquela repressão”. E me citou.
Vou tentar fazer um painel minimalista do perfil de Cortez Pereira. Um daguerreótipo para tentar fotografá-lo. Tentarei, se conseguirei não posso assegurar.

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