quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PADRE CANINDÉ E A PRESENÇA DA IGREJA NAS QUESTÕES SOCIAIS DO VALE DO ASSU



Nascido no município de Angicos (RN), mais
especificamente em Pelo Sinal (um pequeno sitio), Francisco Canindé
dos Santos, hoje com 75 anos de idade e 47 de vida sacerdotal, chegou
a Paróquia de São João Batista de Assú no ano de 1966, a exatamente 47
anos serve ao povo de Deus nesta paróquia. O considero um ícone, uma
das últimas vozes proféticas vivas em nosso meio. Homem culto, exímio
orador e dono de uma capacidade de exortação profunda, igualando-se ao
saudoso Dom Hélder Câmara, ex-Arcebispo de Recife e Olinda (PE).
Para este homem que abraçou a vocação sacerdotal com
muita responsabilidade, entendeu perfeitamente o encontro do Evangelho
com a vida. Optou por configurar-se a Cristo escolhendo o serviço aos
pobres. Viveu e lutou muito aproximadamente com as novas exigências do
Concílio Vaticano II, que mostrava ao mundo que a Igreja deve ser um
sinal da presença de Cristo no mundo, e esse sinal de comunhão com
Cristo passa preferencialmente pelos excluídos da sociedade.
Desde que chegou às terras do Vale do Assú, foi dado a
provações das mais diversas como: a perseguição pelo regime da
ditadura militar, que o considerava como um agitador ou subversivo,
chegando este a sofrer sérias retaliações por apresentar um
comportamento avesso à lógica do regime. Mas, como um incansável
discípulo do mestre, continuou anunciando e denunciando, exercício
próprio de um profeta.
Lendo reportagens nesses dias acerca do abandono a que
chegou as terras do Baixo Açu, reporto-me ao ano de 1968 quando este
sacerdote coerente com a vocação a qual abraçou, mobilizava a
sociedade civil organizada do Vale do Assú para debater junto aos
governos do Estado e Federal acerca da verdadeira viabilidade da
construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves. Jamais colocou-se
contra a construção do reservatório, mas questionava de que forma os
varzeanos seriam verdadeiramente beneficiados por tal projeto.
Interrogado o DENOCS, juntamente as outras esferas falavam de uma
política de distribuição de renda e beneficiamento.
Passados 35 anos de sua fundação e funcionamento, a
Barragem tem servido como instrumento de empobrecimento de
significativa parte da população ribeirinha. Claro que há inúmeros
benefícios, como o abastecimento das cidades, chegando hoje a servir o
precioso líquido a quase 45% das cidades do RN. Mas, do ponto de vista
do desenvolvimento sustentável nem de longe tem contribuído de forma
justa com os mais pobres. A oferta de água, fora do abastecimento, tem
colocado-se a servido de empresas multinacionais que exploram e
empobrecem as nossas terras, gerando pouco emprego e desenvolvimento,
mas deixando marcas indeléveis como o desmatamento da vegetação das
carnaúbas e outras vegetais, causando a morte do Piranhas-Açu, graças
à poluição perene de suas águas por essas mesmas empresas e cidades
que jogam seus esgotos em seu leito e tantos outros problemas.
Um dado significativo da desigualdade no Vale do Assú, é
que a agricultura familiar tem desaparecido, uma vez que o pequeno e
médio agricultor não consegue plantar, pois a energia para manter a
plantação foge ao seu padrão de renda e viabilidade, ficando a única
opção por ingressar nessas empresas e torna-se um assalariado
empobrecido, enquanto as multinacionais aqui presentes obtêm lucros
exorbitantes a custa de um trabalho muitas vezes com regime
escravista.
O que constata-se hoje em relação aos inúmeros problemas
entorno da questão dos projetos de irrigação nessas terras do Vale do
Assú, já era percebido por figuras memoráveis como Padre Canindé,
Terezinha Aranha e tantos outros, que lideravam um movimento de
distribuição de renda de forma equamine. Portanto, esse espanto de
alguns políticos em visita a essas áreas de irrigação e a constatação
de seus problemas não é de hoje. Pena que quando pleiteavam ocupar
cargos como deputado, governo e senador, não olharam para essa
realidade gritante, de forma que contemplassem em seus projetos de
governo medidas que revertessem essa situação. Mas como faltam poucos
anos para a nova legislatura (2014), novamente revestem-se de
“salvadores da pátria”.
Precisamos urgentemente de líderes do povo a exemplo de
Padre Canindé. Olhemos o seu exemplo de serviço e abracemos a missão a
qual fomos chamados. Chega de olhar para o povo apenas como massa
votante, deixando seus problemas diários como elementos de discurso
que repete-se em quatro e quatro anos. Em 2014 precisamos de líderes
políticos mais ousados, com mente aberta, sobretudo ao diálogo com o
povo e seus representantes. Creio verdadeiramente que novos tempos
virão.


Por Profº. Francisco Antônio
fcooliveirasouza@gmail.com

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