Quadro confuso
Governo de Rosalba tem enorme dificuldade para viabilizar candidato próprio à sucessão de Micarla
A sucessão da prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), é um dos quadros mais confusos e repleto de variáveis, que a política da capital já experimentou em décadas. Pode tudo. Nada é impossível.
Com um governo extremamente desgastado, Micarla não é vista como nome forte à própria sucessão, ou seja, a um projeto de reeleição. No grupo governista estadual, que costuma ter peso considerável em eleições em Natal, o cenário também não é dos melhores em termos de prestígio popular.
A governadora Rosalba Ciarlini (DEM), depois de ser a mais votada para o Senado em 2006 e ao Governo do Estado em 2010, aparece em declínio vertiginoso em termos de avaliação de governo. Qualquer pesquisa mostra esse quadro.
Mas basta um passeio comum por qualquer ponto de concentração humana da capital, para se identificar essa situação, sem necessidade de aferição científica. O Governo do Estado já tem problemas demais.
Nesse ambiente em que as maiores forças institucionais, no estado, estão fragilizadas, a própria união de Micarla e Rosalba não está descartada. Nos últimos dias, declarações de porta-vozes do governo estadual alimentaram essa hipótese. Um “balão-de-ensaio” ou apenas um “me engana que eu gosto”, segurando a prefeita em suas esperanças de receber reforço à própria reeleição.
Na verdade, o grupo da governadora não tem candidato próprio à Prefeitura do Natal. Ninguém. Aspira pegar embalo e conseguir esse feito, por tabela, na aposta de um nome que tenha condições de vitória.
Para arrimar a tese de que a sucessão natalense pode tudo ou quase tudo, não se descarte a possibilidade de apoio ao pedetista e ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT), via influência familiar através do PMDB do ministro e senador Garibaldi Filho (PMDB).
Contabilize-se ainda, a influência do deputado federal Henrique Alves (PMDB), que declarou empenho em “ajudar” o governo da “Rosa”, desinteressadamente. Por vocação pública, digamos.
Primos de Carlos Eduardo, mesmo que em partidos distintos, os peemedebistas Garibaldi e Henrique atrairiam o ex-prefeito para ser também o candidato de Rosalba. Uma forma de distanciá-lo por completo da ex-governadora e também ex-prefeita Wilma de Faria (PSB).
Reflexos
Qualquer pessoa medianamente atenta à política natalense sabe: hoje, a composição entre Carlos e Wilma praticamente nomearia o ex-prefeito para retorno à Prefeitura do Natal. Uma união com reflexos diretos nas eleições de 2014, em que Rosalba deve tentar a reeleição e Henrique aspira uma vaga ao Senado. Garibaldi projetaria o filho, deputado estadual Walter Alves (PMDB), à Câmara Federal.
Nesse jogo de interesses, há pouco espaço para outros atores coadjuvantes. É o caso do deputado federal Rogério Marinho (PSDB), que faz um esforço sobre-humano para ser adotado por Rosalba e pelo ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (DEM), marido da governante e seu mentor político.
A aspiração de Rogério depende do casal. Ele só é deputado porque Betinho Rosado (DEM), titular do mandato, cunhado de Rosalba e irmão de Carlos, foi convocado para a Secretaria Estadual da Agricultura.
Ninguém esqueça, nesse enredo, o vice-governador Robinson Faria (PMN), sitiado pelo casal Carlos-Rosalba. Claro que ele não vai ficar de braços cruzados, assistindo a tudo passivamente. Nem pretende meter a mão na mesa e ofertar argumentos para ser enxotado oficialmente.
Robinson já entregou ao deputado estadual Agnelo Alves (PDT), pai de Carlos Eduardo Alves, o controle do nascente PSD, em Parnamirim, principal reduto do parlamentar.
Ao mesmo tempo, com o PSD, que deverá ser o terceiro maior partido da base da presidente Dilma Roussef (PT), o vice-governador ganha passaporte direto à sombra do governo, ao contrário de Rosalba que precisa de intermediários. Outro complicador para a governadora, é que o senador José Agripino (DEM), presidente do seu partido, é o mais feroz adversário da presidente no Congresso Nacional.
Robinson, Wilma e Carlos Eduardo Alves, na esfera nacional, são da base de Dilma Roussef. Só para lembrar. Rosalba, não. Rogério Marinho, também não. Micarla só chega lá pelas mãos de Henrique Alves. O PT tem acesso livre e deve ter postulação própria à prefeitura.
Com o fim do bipartidarismo, o desmanche das correntes “verde” e “encarnada”, o desaparecimento das grandes lideranças populares e a confusão para se identificar quem é oposição e governo, é difícil se fazer previsão para a corrida sucessória em Natal.
Está tudo junto e misturado. Dessa “gororoba” pode sair qualquer coisa, com qualquer cara. E no caso específico do governismo estadual, não fazer o prefeito de Natal pode causar estrago ainda maior em seus planos políticos. Administrativamente, o degaste anda rápido e corrosivo.
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