domingo, 13 de junho de 2021

O petróleo é nosso?


Exploração de petróleo está em declínio no RN (Foto: autor não identificado)

Por Carlos Eduardo 

O lema que inspirou o início da indústria petrolífera no país, na era Vargas,  parece que perdeu o sentido entre nós a julgar pelas sucessivas ações protelatórias da Petrobras desde que iniciou seu programa de desinvestimento, vendendo ativos para concentrar recursos em águas profundas e ultraprofundas, o pré-sal.

Assim, em 2019 desfez-se aqui de 34 campos de produção terrestre no polo Riacho da Forquilha. Agora foram os campos de Porto do Mel e Redondo, em Areia Branca, que tiveram uma produção média no primeiro semestre de 2020 de quase 500 barris/dia. E já pensa em se desfazer de mais três campos de exploração em águas rasas no polo Pescada (Pescada, Dentão e Arabaiana). Com isso, o nível de emprego caiu de cerca de 10 mil postos de trabalho para quase 3 mil. Note-se que já fomos o maior produtor nacional em terra. Segundo a Agência Nacional de Petróleo – ANP, de 1998 a 2018 foram extraídos do nosso subsolo 514 milhões de barris, sendo 87% em terra e 13% em alto-mar.

 Até aqui compreende-se a questão: uma nova direção da estatal e um novo enfoque de mercado para onde canalizar seus recursos. O problema está em sua desatenção com o RN, principalmente pelo destino a ser dado à Refinaria Clara Camarão, uma planta planejada para multifunções, produzindo diesel, nafta química, querosene para aviação e gasolina automotiva, tornando o RN o único Estado do país autossuficiente na produção de todos os tipos de derivados do petróleo.

A mesa Reate, um fórum para discutir a retomada do setor oil & gás no RN, conseguiu quebrar o sigilo da Petrobras dentro da ANP para cobrar os prazos que vem sendo frequentemente adiados, prejudicando a retomada de investimentos no setor. Os compradores dos campos alienados estão com seus investimentos retraídos à espera de uma definição sobre a nova gestão da refinaria. Desse modo, o baixo nível da atividade na cadeia produtiva tem levado a uma drástica queda na produção, afetando sensivelmente o patamar de empregos e a arrecadação de divisas. Além de tudo, as tarifas de tratamento de gases elaboradas pela Petrobras foram consideradas proibitivas pelo mercado, hoje sufocado e acuado por uma política da estatal totalmente adversa ao nosso desenvolvimento, uma postura lenta por demais para as nossas necessidades.

Vender seus ativos é um direito legal da empresa, mas não precisava ser tão cruel com um parceiro de tantos anos que só deu lucros e lucros bons. Diante de tudo isso, não podemos nem devemos ficar de braços cruzados, assistindo passivos à derrocada da nossa economia, que até 2018 contabilizava 52% da nossa atividade industrial somente com a produção petrolífera. Hoje, mal chega a 30%.

Devemos assim, governo estadual, bancadas políticas estadual e federal, sindicatos, entidades patronais, dirigentes da indústria e a própria sociedade através de seus vários segmentos organizados tomaruma atitude firme e enérgica em defesa do nosso Estado. E devemos nos organizar o quanto antes. Afinal, o petróleo é nosso, sim senhor!

Em tempo. Problema similar ocorre com o nosso minério de ferro, commoditie que atualmente apresenta seu maior pico de valorização no mercado internacional com uma elevação de 47%, a maior de sua história. Enquanto isso, nossas minas de Jucurutu e Currais Novos estão fechadas e seus trabalhadores desempregados e largados à própria sorte. É preciso reagir!

*É ex-Prefeito de Natal.

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