Vivi duas experiências dolorosas em meus 47 anos.
O sacrifício de meu pai e de minha avó até a morte em hospital.
É uma dor que não para de inflamar.
Meu pai, aos 57 anos, morreu em hospital público.
Faz 19 anos em junho.
Minha avó, 91 anos, em atendimento com plano de saúde da qual era dependente de um filho e custosas despesas extras.
Aprendi demais sobre o ser humano.
O doente é um carente eterno.
Respeito, tratamento e o mínimo de atenção lhe garantem sobrevida.
Lembro que, nos dois casos, dediquei-me com força a me integrar aos outros agonizantes familiares, sempre esperando uma notícia positiva, em meio a prognósticos irreversíveis.
Perdi os dois, não os recupero mais tampouco os esqueço um dia só.
Eles foram, meu sentimento é de revolta, privilegiados.
Por onde ficaram, pela força profissional que receberam.
Outro dia, na TV, vi uma velhinha na faixa dos 80 e tal, jogada ao corredor do maior hospital do Estado, Walfredo Gurgel, com a mão esfacelada, esperando uma intervenção.
Pensei logo em minha avó.
A senhorinha tem filhos, tem netos, tem dores absurdamente cruéis.
A diretora avisou que não há como fazer cirurgias.
Por absoluta falta de condições.
Médicos, enfermeiros e auxiliares do Walfredo Gurgel formam um contingente de heroísmo de guerra.
Que gestor consegue dormir sabendo que um ser humano definha até suspirar pela última vez?
Sem mover uma palha, sem estender a mão e agindo como se governasse uma Dinamarca solar.
Só um homem insensível.
E desprovido de piedade.
Quando, de fato, descumpre sua obrigação.
É o provérbio: “Quem maltrata os pobres, ofende a Deus.”
Justiça de Deus pode demorar.
Quando chega, não há recurso que a impeça de triunfar sobre os tiranos.
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